sábado, 2 de janeiro de 2010

A vida do Fusca...



Criado na década de 30, o fusca se espalhou em mais de 150 países, nos quatro cantos do planeta. Não há dúvidas de que, por onde passou, tornou-se um ícone, seja como Käfer, Coccinelle, Escarabajo, Vocho, Maggiolino, Fusca, Beetle ou Bug. Segundo o livro "The Volkswagen Beetle", a idéia de um "carro do povo" - tradução literal da palavra alemã Volkswagen para o Português - é tão antiga quanto a existência dos automóveis. Os carros "populares" da época eram extremamente pequenos, no entanto, o seu tamanho e simplicidade não significavam serem acessíveis às pessoas comuns. Ferdinand Porsche, nascido em 1875 numa cidade do império Austro-Húngaro e exímio projetista de veículos, idealizou a criação de um carro popular, o que era para muitos uma ilusão. Porém, em 1933, quando o Partido Nazista chegou ao poder, tal idéia encantou o seu então chefe, Adolph Hitler, que tinha traçado como uma de suas metas a motorização de toda a população alemã. Com o apoio do governo, Porsche recebeu a quantia de 200 mil marcos para desenvolver um automóvel com as seguintes características: trafegar continuamente a 100 km/h, transportar quatro pessoas e suas malas e custar no máximo 1.000 marcos imperiais. Ao final de um período de 10 meses, entregou os primeiros protótipos Volkswagen, os VW-3. Em 1937, é criada uma empresa estatal para a fabricação dos automóveis desenvolvidos por Porsche, cujo capital inicial de 50 milhões de marcos foi proveniente do Sindicato Trabalhista Alemão e de um de seus departamentos, a KdF - Kraft durch Freude (Força pela Alegria), o que originou o nome original do fusca, o KdF-Wagen. Para a apresentação do KdF-Wagen e lançamento da pedra fundamental da fábrica de Wolfsburg, o governo alemão programou uma grande festa, com a presença de seu líder, em maio de 1938. Na ocasião foram apresentados três modelos: um convencional, um cabriolet (conversível) e um com teto solar. Muito interessante também era a forma como esses automóveis iam ser vendidos: metade do seu valor deveria vir do preenchimento de um álbum de selos, comprados semanalmente.Anos depois, na década de 70, os possuidores destes "'álbuns de figurinhas" recorreram às Cortes Alemães para reaver o seu poder de compra. O resultado: um desconto na compra de um novo VW ou um pequeno reembolso. Veio a 2a. Guerra Mundial e com ela a substituição da fabricação dos KdF-Wagen por veículos militares. Os mais conhecidos são o jipe Kübelwagen, que teve uma produção de cerca de 55 mil unidades e o anfíbio Schiwimmwagen. Depois da guerra, a fábrica de Wolfsburg ficou praticamente destruída, passando a ser de domínio inglês. Aqui algumas opiniões sobre a fábrica e os automóveis que lá eram fabricados: "Esse veículo não dispõe dos requisitos fundamentais de um automóvel. Suas formas e desempenho são pouco atrativos para o comprador médio. É muito feio e barulhento. Poderá ser popular por um ou dois anos, se tanto" (de integrantes de uma missão enviada de Londres) "Não vale um níquel" (do americano Henry Ford, criador do famoso Modelo "T", a quem a fábrica de Wolfsburg foi oferecida a preço de banana) Nesse momento os ingleses assumiam papel importante na história do fusca. O major Ivan Hirst foi responsável pela retomada da produção dos primeiros Fuscas do período pós-guerra. E daí em diante o carro retomava seu papel desenvolvimentista, sendo utilizado basicamente pelos serviços essenciais, como atendimento médico, correios, etc.
NO BRASIL
No caso específico do Brasil a simbologia do fusca é algo que pode levar aos extremos da paixão ao ódio. Porém uma coisa ninguém pode contestar: praticamente todos os brasileiros têm alguma relação com o fusca, por mais remota que seja. A chegada dos primeiros Volkswagen ao Brasil se deu em 1950 e, a partir de 1953, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, foi iniciada a montagem dos veículos com peças vindas da Alemanha. Poucas pessoas têm noção do que esse fato veio a representar para o Brasil. A produção de fuscas foi o marco inicial da indústria automobilística brasileira, principalmente com construção da fábrica em São Bernardo do Campo, SP. Em 1959, o então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, orgulhosamente apresenta ao povo brasileiro os 4 primeiros VW Sedan não apenas montados, mas fabricados no país. Com a chegada da linha de montagem ao Brasil, um país que vivia quase que exclusivamente da produção agrícola, sofre uma profunda transformação: em sua maioria vindos do Nordeste, os trabalhadores se deparam com um novo tipo de relação de trabalho contando pela primeira vez com a regulamentação de seus direitos trabalhistas. Entretanto, nesse início de fabricação, grande parte das peças não era produzida no Brasil, o que fez com que o Governo brasileiro forçasse a empresa a nacionalizar totalmente o então "VW Sedan". O que esse fato representou para o País talvez seja mais claro para aqueles que viveram esta época, pois puderam realmente sentir uma transformação sem precedentes no que diz respeito, por exemplo, à geração de novos empregos, desenvolvimento de áreas urbanas nas cercanias das fábricas, desenvolvimento de outros meios de transporte... aqui em Recife, quem não se lembra das frotas de táxis nos anos 70 e 80 quase que exclusivamente de fuscas cor de jerimum? Mas isso não quer dizer que nós que somos de uma outra geração também não pudemos sentir esses efeitos. Quem hoje está na faixa dos 30 anos, provavelmente brincou muito no fusca do pai ou da mãe. Também muitos de nós aprenderam a dirigir num fusquinha, apesar de na época não mais ser fabricado, sem falar que para aqueles que tiveram a felicidade de ter um carro, a probabilidade de seu primeiro carro ter sido um fusca é altíssima... Apesar das constantes mudanças que o fusca vez por outra sofria para se modernizar e de corresponder às necessidades automotivas dos brasileiros, resultando numa verdadeira paixão nacional, em 1986 a Volkswagen do Brasil decide parar a sua fabricação, fato que rendeu homenagens até mesmo dos seus concorrentes. Mas, como em se tratando de fusca tudo é possível, no Brasil aconteceu um fato quase inédito na indústria automobilística mundial: em 1993 ele volta a ser fabricado, uma decisão do então Presidente Itamar Franco, que tinha seus vários motivos para fundamentá-la. Entretanto, destacamos o que gerou mais comentários: uma ex-namorada tinha um fusquinha verde 1981, que, dizem, além de inspirar o retorno, foi sonho de consumo do ex-presidente, que tentou comprá-lo, sem sucesso. O "Fusca Itamar", como ficou conhecido, sofreu várias modificações e as campanhas publicitárias de seu relançamento falavam do novo Fusca como um velho conhecido que voltava de férias. O novo fusca vinha equipado com ignição eletrônica, pára-brisa laminado, pneus radiais sem câmara (165-15, medida inadequada, pois a correta seria 155-15, como no Fusca mexicano), catalisador e cintos de segurança dianteiros de três pontos. O interior recebeu novo volante espumado, bancos com apoio de cabeça de série e revestimento protegido contra fogo. Havia até versão a álcool. O câmbio continuava de quatro marchas, com relação de diferencial 3,88:1, A produção do fusca Itamar foi de 47.700 unidades e, em 1996, os últimos exemplares novamente se vestiram de pompa para mais uma despedida. Surgia uma nova Série Ouro, com revestimentos do esportivo Pointer GTi, novos mostradores de fundo branco, faróis de neblina e outras sofisticações. Em 28 de junho de 1996, mais uma vez a Volkswagen para de fabricar o fusca. E eis que em meados da década de 90, surge o New Beetle, mas essa é uma outra história...

Escrito por Robson Luiz Braga
Fontes Livros: A história de um símbolo. São Paulo: Prêmio, 1996. Revistas: Oficina Mecânica - Edição Especial FUSCA. São Paulo: Sigla Editora, 1993.

Um comentário:

  1. Cara muito interessante a história do fusca, confesso tenho certa admiração pelo carro, mas nunca soube desses detalhes históricos
    Parabéns pelo blog

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